terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Acampamento no Juquinha - 22.01.09

Saímos para acampar na Serra do Cipó, mas sem destino certo. Procurávamos um local onde pudéssemos fazer a comida, sem ter que sofrer a facada dos restaurantes das áreas de camping.

Depois de muito dirigir, nos assustamos quando vimos o Juquinha. Foi então que percebemos que estávamos quase em Conceição do Mato Dentro e, como já estava escurecendo, nossas esperanças de achar um bom local iam se esvaindo.

Como eu nunca tinha tirado uma foto com o Juquinha, apesar de já ter passado milhares de vezes por ele, resolvemos parar por ali e depois seguir para qualquer um daqueles campings farofa ao pé da Serra.

Ao entrarmos no terreno, nos deparamos com uma senhora tocando alguns bois para fora da propriedade. Resolvemos perguntar a ela se conhecia alguma área para acampar baratinha. Eis que, para nossa grata surpresa, Dona Maria nos convidou para armar a barraca na sua propriedade, dentro das terras do Juquinha. Como de costume, para os mineiros e interioranos, fomos à casa da Dona Maria “trocar um dedo de prosa”, quando Dona Maria nos contou que era cunhada do famoso Juquinha.

Entre um café e um biscoito, depois de três dias de acampamento e muita conversa com Dona Maria, descobri coisas interessantes.

1 – O Juquinha não é tudo aquilo que contam. Dona Maria faz questão de frisar que ele não é filho de loba, não dormia em caverna e não comia escorpião, nem nunca foi picado por cobra, menos ainda as cem cobras de uma só vez, como diz a lenda. Ele era sim, um homem muito gentil e famoso por seu bom humor, que vendia refrigerante e cerveja na beira da estrada. Nascido da Dona Jacinta Mariano, na Serra do Cipó, onde hoje está sua estátua, e que morreu por lá mesmo, bem velhinho sem ter feito muitas artimanhas na vida. A única história que a Dona Maria confirma é da morte do Juquinha. Diz que ele morreu de dia e acordou de noite, vivendo mais três dias pra depois falecer de vez.

Então, de onde surgiu tanta história?
2 – Aí é que entra outra descoberta interessante. As lendas surgiram da ganância de algumas pessoas. Segundo Dona Maria, uma tal artista plástica chamada Virginia Ferreira, recebeu investimentos de um alemão radicado nos Estados Unidos para construir a estátua do Juquinha e dois prefeitos da região resolveram apoiar. Só que a família do Juquinha, batizado José Patrício, nunca foi consultada sobre isso tudo. O mais triste é que hoje, a Dona Virginia ganha dinheiro vendendo estátuas do Juquinha, pelos olhos da cara, sem pagar nem um realzinho para a família dele, que passa apertos e vive com muito pouco. Aqui não cabe discussão, o direito de uso de imagem é da Dona Maria e dos seus parentes e de mais ninguém.
Que pouca vergonha, héin, Dona Virginia!?

3 – Por fim, a última história é caso pra se pensar e refletir. Desde que o IBAMA resolveu transformar o Parque em reserva ecológica todos os moradores foram proibidos de plantar, criar gado e de fazer praticamente tudo.
A maioria deles é gente pobre e carente de cultura, como dizia Sabotage, e por isso não tem de onde tirar o sustento. Como disse Dona Maria, “depois que o Governo veio aqui e proibiu a gente de tudo, a gente vive do que dá e da maneira que consegue”. E foi como eu vi. Dona Maria vive com algumas poucas cabeças de gado, numa casa por terminar, em uma região onde os grandes fazendeiros vivem em palácios.

Por um lado eu concordo com a proibição para a plantação, porque as pessoas mais simples precisam atear fogo na terra para então plantar. Por outro lado, me entristeço em ver que a cada solução que o Governo apresenta, cria outros problemas deixados sem solução, ao descaso do poder público.

Como disse Burle Marx, a Serra do Cipó é realmente o “Jardim do Brasil” e deve ser preservada como um paraíso e eu defendo essa bandeira. Defendo outra também, de que o prefeito de Santana do Riacho deva construir uma estátua para a Dona Maria e colocá-la bem ao lado da estátua do Juquinha, ali no Capão da Ursa. Só que, desta vez, sem o dedo ambicioso e a pose falastrona de pseudo-moralistas.

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